sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

CONTO: UMA PROVA DE AMOR



Éramos felizes, muito felizes. Eu me lembro que sempre quando saímos para tomar sorvete você pedia de chocolate e eu de flocos, você melava a ponta de meu nariz e em seguida lambia, riamos sem parar.
No nosso primeiro dia juntos, você me pediu para que eu subisse na garupa de sua moto, você colocou o capacete e eu fiquei sem, me lembro bem que você falou para que eu segurasse firme em sua cintura, você queria me sentir mais perto e ter certeza que aquele momento era real.
-Meg, Meg! –você disse em um meio sorriso.
-Aron, mais devagar! –eu gritei. Meus cabelos dançavam com o vento, apesar de eu estar com medo, me sentia segura com você.
Aron gargalhava, achava o meu medo engraçado, ele desacelerou e logo e estacionou, logo retirou o capacete e se virou, dando-me um beijo.
Eu estava apaixonada, mesmo antes do pedido de namoro, Aron era o cara dos meus sonhos, definitivamente.
Alguns anos se passaram e a nossa relação ficou mais séria. Aron todos os dias me impressionava, demonstrando-me quão especial eu era para ele, 3 ligações por dia, todas as quartas-feiras eu recebia buquês de flores com cartas escritas manualmente, aquilo parecia um sonho.
No nosso quarto ano juntos a surpresa não poderia ter sido melhor, Aron fingiu um desmaio no meio de um restaurante e claro eu fiquei em pânico, gritei, chorei, pedi ajuda, mas ninguém se movia, acho que todos já sabiam o que estava por vir, depois de muito choro, eu sacudi ele pelos ombros e um sorriso cínico brotou em seus lábios corados, ele se sentou e gargalhou (eu admito que por alguns segundos o odiei), Aron ficou de joelhos e pediu para que eu me levantasse, mas eu não conseguia, minhas pernas ainda estavam tremendo, assim como o resto do meu corpo, mas mesmo não saindo como ele tinha planejado, foi perfeito.
Aron e eu ficamos ajoelhados e ele tirou de seu bolso um anel brilhoso, que me fez derreter-me em lágrimas, ele me disse:
-Meg, casa comigo? – seus olhos brilharam e ficaram marejados, ele continuou –prometo que vou te amar todos os dias, em dias de chuva quero ser o seu sol, em noites frias eu vou te aquecer e quando as coisas ficarem complicadas eu ainda estarei com você, porque eu te amo!
Emocionada e surpresa pulei em seus braços e lhe disse: -SIM!
Nós nos abraçamos e nos beijamos, falamos um para o outro quanto nos amávamos, tudo estava lindo, até faltar dois dias para o nosso casamento e decidirmos subir a serra de moto.
Nós acampamos, foi uma noite maravilhosa de chuva, nós nos amamos, naquele noite eu tive certeza que Aron era o homem da minha vida e me casar com ele seria a melhor coisa na qual eu já fiz na vida.
Choveu a noite toda. No dia seguinte acordei com beijos e cafuné, Aron sempre foi carinhoso, ele me disse que eu era linda dormindo e mais linda ainda acordando. Eu disse que o amava.
Arrumamos tudo e colocamos na mochila, como a mochila ficou pesada e cheia eu decidi deixar o meu capacete para trás, Aron brigou comigo e pediu para que eu o pegasse e usasse, até parece que ele já adivinhava o que viria acontecer.
-Ah não, essa mochila tá cheia e incomoda, não dá para colocar o capacete! –teimei. Aron insistiu, mas desistiu depois que eu disse que não iria colocar o capacete.
Ele dirigia com cuidado, mas estava tudo tão escorregadio, Aron acelerou a moto no intuito de desviar das pedras e para que chegássemos logo em casa, já que estava começando a chover novamente. Aron avistou um pedra a alguns metros e tentou frear, não se via bem a distância pois a neblina e a chuva embaçavam a vista, pelo retrovisor vi seu olhar preocupado e ele gritou:
-Meg, pegue o meu capacete!
-Não, estou levanto muita bagunça! –retruquei.
-Pegue o meu capacete agora! –ele grita.
Sem entender nada fiz o que ele pediu, coloquei o capacete em minha cabeça e coloquei a trava de segurança.
Aron gritou alto:
-EU TE AMO E SEMPRE TE AMAREI!
-Eu também te amo! –falei.
A neblina e a chuva tomaram conta de toda a nossa visão, batemos na pedra, cai bolando até bater em uma árvore e minha visão ficar escura. Aron sabia que não conseguiria desviar da pedra e ele decidiu renunciar a sua vida por mim.
Hoje eu me pergunto: qual é a maior prova de amor que alguém pode dar? E em seguida eu me respondo: -renunciar a sua própria vida por alguém.
Aron morreu para que eu me salvasse, deixou-me com um fruto de nosso amor, carrego o nosso filho no ventre e meu amado estará sempre conosco. Contarei ao nosso filho que seu pai foi um herói e que ele sempre será lembrado, nem o tempo será capaz de me fazer esquece-lo, nem a morte será capaz de tirar o amor que sinto por ele do meu peito, o nosso amor foi selado e consumado com a vida que carrego dentro de mim.

-Nívea Alves

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

A FAMÍLIA E O ÁLCOOL (Micro-conto)



Raír saiu cedo para o bar deixando João e eu em casa. Duas horas depois, Raír voltou com uma garrafa de bebida na mão, totalmente bêbado e descontrolado ele gritou comigo, exigindo que eu lhe desse dinheiro para comprar mais bebida.
-Eu não tenho! –falei.
Exaltado ele levantou a mão e me golpeou com um murro no rosto, eu caio no chão. Raír grita e me chuta, eu me encolho no chão. Nosso filho escuta e logo vem correndo com seu cofre de gesso nas mãos, ele chora sem parar e fica em minha frente, estende suas mãos para o pai e lhe oferece seu cofre com as poucas moedas que juntou.
-Tome, volte para o bar! –João fala chorando.
Raír puxa o cofre das mãos do nosso filho de 5 anos e saí batendo a porta. João e eu ficamos ali mesmo no chão, ele me abraça e me beija.
Essa foi a última vez que vimos Raír. Fiz as malas, peguei na mão de João e fomos embora para casa dos meus pais. Dois dias depois recebi a notícia que Raír foi brutalmente assassinado depois de participar de uma briga no bar. Agora somos apenas João e eu, e quanto vida eu tiver nenhum homem jamais irá me bater e meu filho nunca mais irá presenciar tamanho desrespeito, violência e dor.

-Nívea Alves

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

QUEM VOCÊ PENSA QUE É?



Quem você pensa que é para entrar em minha vida, conquistar o meu coração e ir embora como se não me devesse explicação? Quem você pensa que é para sair de um relacionamento como se ele nunca tivesse existido?
Você acha que é só assim, entrar em minha vida, conquistar o seu espaço e partir? Veja bem, com o coração não se brinca. Você falava que eu era o amor da sua vida, me fez criar expectativas, me deixou com o gosto do seu beijo, com o aroma do teu perfume e com a ilusão que você voltaria.
Não é justo, não é justo comigo, não é justo com você, quanto mais eu te tinha, mais eu te queria.
Porque, porque você não cumpriu sua promessa? Porque me disse que voltaria? Porque você disse que sempre estaria comigo, porque?
Se eu soubesse que aquele dia seria o último que eu te tinha em meus braços, eu juro que não te deixaria sair por aquela porta, eu te trancaria em casa e te abraçaria até você ficar sem fôlego. Ah se eu soubesse!
Assim que você saiu e me deu o último sorriso eu não tinha ideia da catastrofe que aconteceria em seguida, senti um arrepio, mas pensei que era frio, naquela manhã de novembro estava chovendo muito e eu te disse para tomar cuidado e você sorriu. Eu te  disse que te amava, ah se eu soubesse que aquele dia seria o último ‘eu te amo’ que você ouviria.
Noticia ruim chega rápido, talvez mais veloz do que o próprio raio. A chuva ficava mais forte assim como as batidas desesperadas em minha porta, eu abri preocupada e logo um rosto pálido e molhado jogou uma bomba em cima de mim, ele me disse que o seu carro ficou soterrado e que tinha muitas pedras sobre ele. O meu mundo caiu! Como poderia ser? A alguns minutos você sorriu para mim e estava feliz, como isso pode ter acontecido?
Eu fiquei desorientada, sem chão. Quem você pensa que é? Porque não teve cuidado? Você prometeu, prometeu que cuidaria de mim até o fim, você prometeu, mas se foi antes mesmo de cumprir a sua promessa.
Te vi desfalecido, pálido na caixa de madeira, meu coração doeu. Eu quis gritar, tudo isso parecia um pesadelo, eu nunca mais iria ver o teu sorriso, nunca mais eu sentiria os teus beijos, nunca mais eu te teria em meus braços. Minha voz não saiu, parecia que era o fim para mim, eu sentia uma dor isuportável dentro de mim.
Quem você pensa que é para me fazer sentir essa dor? A dor da perda, a dor da saudade, a dor do desespero, a dor de nunca mais te ver e a dor de nunca mais te ter. Quem você pensa que é?

-Nivea Alves

O MENINO JOSUÁ

A fome que me mata aos poucos, deixa minhas costelas aparentes, meu corpo fraco, minha visão turva e o descaso bem aparente. A fome da ignor...