CONTO: UMA PROVA DE AMOR



Éramos felizes, muito felizes. Eu me lembro que sempre quando saímos para tomar sorvete você pedia de chocolate e eu de flocos, você melava a ponta de meu nariz e em seguida lambia, riamos sem parar.
No nosso primeiro dia juntos, você me pediu para que eu subisse na garupa de sua moto, você colocou o capacete e eu fiquei sem, me lembro bem que você falou para que eu segurasse firme em sua cintura, você queria me sentir mais perto e ter certeza que aquele momento era real.
-Meg, Meg! –você disse em um meio sorriso.
-Aron, mais devagar! –eu gritei. Meus cabelos dançavam com o vento, apesar de eu estar com medo, me sentia segura com você.
Aron gargalhava, achava o meu medo engraçado, ele desacelerou e logo e estacionou, logo retirou o capacete e se virou, dando-me um beijo.
Eu estava apaixonada, mesmo antes do pedido de namoro, Aron era o cara dos meus sonhos, definitivamente.
Alguns anos se passaram e a nossa relação ficou mais séria. Aron todos os dias me impressionava, demonstrando-me quão especial eu era para ele, 3 ligações por dia, todas as quartas-feiras eu recebia buquês de flores com cartas escritas manualmente, aquilo parecia um sonho.
No nosso quarto ano juntos a surpresa não poderia ter sido melhor, Aron fingiu um desmaio no meio de um restaurante e claro eu fiquei em pânico, gritei, chorei, pedi ajuda, mas ninguém se movia, acho que todos já sabiam o que estava por vir, depois de muito choro, eu sacudi ele pelos ombros e um sorriso cínico brotou em seus lábios corados, ele se sentou e gargalhou (eu admito que por alguns segundos o odiei), Aron ficou de joelhos e pediu para que eu me levantasse, mas eu não conseguia, minhas pernas ainda estavam tremendo, assim como o resto do meu corpo, mas mesmo não saindo como ele tinha planejado, foi perfeito.
Aron e eu ficamos ajoelhados e ele tirou de seu bolso um anel brilhoso, que me fez derreter-me em lágrimas, ele me disse:
-Meg, casa comigo? – seus olhos brilharam e ficaram marejados, ele continuou –prometo que vou te amar todos os dias, em dias de chuva quero ser o seu sol, em noites frias eu vou te aquecer e quando as coisas ficarem complicadas eu ainda estarei com você, porque eu te amo!
Emocionada e surpresa pulei em seus braços e lhe disse: -SIM!
Nós nos abraçamos e nos beijamos, falamos um para o outro quanto nos amávamos, tudo estava lindo, até faltar dois dias para o nosso casamento e decidirmos subir a serra de moto.
Nós acampamos, foi uma noite maravilhosa de chuva, nós nos amamos, naquele noite eu tive certeza que Aron era o homem da minha vida e me casar com ele seria a melhor coisa na qual eu já fiz na vida.
Choveu a noite toda. No dia seguinte acordei com beijos e cafuné, Aron sempre foi carinhoso, ele me disse que eu era linda dormindo e mais linda ainda acordando. Eu disse que o amava.
Arrumamos tudo e colocamos na mochila, como a mochila ficou pesada e cheia eu decidi deixar o meu capacete para trás, Aron brigou comigo e pediu para que eu o pegasse e usasse, até parece que ele já adivinhava o que viria acontecer.
-Ah não, essa mochila tá cheia e incomoda, não dá para colocar o capacete! –teimei. Aron insistiu, mas desistiu depois que eu disse que não iria colocar o capacete.
Ele dirigia com cuidado, mas estava tudo tão escorregadio, Aron acelerou a moto no intuito de desviar das pedras e para que chegássemos logo em casa, já que estava começando a chover novamente. Aron avistou um pedra a alguns metros e tentou frear, não se via bem a distância pois a neblina e a chuva embaçavam a vista, pelo retrovisor vi seu olhar preocupado e ele gritou:
-Meg, pegue o meu capacete!
-Não, estou levanto muita bagunça! –retruquei.
-Pegue o meu capacete agora! –ele grita.
Sem entender nada fiz o que ele pediu, coloquei o capacete em minha cabeça e coloquei a trava de segurança.
Aron gritou alto:
-EU TE AMO E SEMPRE TE AMAREI!
-Eu também te amo! –falei.
A neblina e a chuva tomaram conta de toda a nossa visão, batemos na pedra, cai bolando até bater em uma árvore e minha visão ficar escura. Aron sabia que não conseguiria desviar da pedra e ele decidiu renunciar a sua vida por mim.
Hoje eu me pergunto: qual é a maior prova de amor que alguém pode dar? E em seguida eu me respondo: -renunciar a sua própria vida por alguém.
Aron morreu para que eu me salvasse, deixou-me com um fruto de nosso amor, carrego o nosso filho no ventre e meu amado estará sempre conosco. Contarei ao nosso filho que seu pai foi um herói e que ele sempre será lembrado, nem o tempo será capaz de me fazer esquece-lo, nem a morte será capaz de tirar o amor que sinto por ele do meu peito, o nosso amor foi selado e consumado com a vida que carrego dentro de mim.

-Nívea Alves

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