Em quem eu me transformei?
Eu já quis ser
perfeita, ou ideal para alguém, já pensei em me tornar uma marionete, talvez as
pessoas gostassem de mim assim, ou simplesmente permitissem que eu ficasse em
suas vidas. Já ouvi muitas palavras duras que me machucaram bastante, mas sorri
como se aquilo não tivesse me atingido, eu simplesmente aceitava tudo que as
pessoas me davam, porque eu queria ser uma “companhia” agradável, ou ser
amigável, já quis muito ser perfeita, ou modelo capa de revista, aqueles que
atraem olhares por onde passam, que tem um corpo estrutural, sorriso na cara e
são atraentes ao olhar dos garotos, eu quis isso, quis muito.
Eu quis tanto que
chegou um momento em que eu quisera ser outro alguém, ou melhor, eu era esse
outro alguém, não fazia nada que gostava, o sorriso era automático, mas meu
coração era fechado, ao cair da noite, sozinha, eu chorava, no dia seguinte me
levantava e sorria, ninguém percebia, eu fingia muito bem. Simplesmente não
estava me reconhecendo, quem sou eu? Porque estou com esse sorriso na cara
quando na verdade, quero gritar, chorar, fugir? Em quem eu me transformei?
Eu não sabia quem era,
mas eu consegui um pouco do que tanto desejava, ser uma “companhia” legal e ter
pessoas absolutamente vazias ao meu lado, eu queria preencher cada uma delas,
mas como? Se até eu me transformei em alguém vazio? Se nem se quer sei quem eu
sou!
Ao passar os dias às
coisas estavam difíceis, meus pensamentos não me deixavam dormir, eu me olhava
no espelho e não sabia quem era aquela imagem refletida, a angustia me tomava por
completa, sensação de vazio, inutilidade, medo talvez, estava me sentindo
sufocada, queria gritar, ou simplesmente fugir, mas como fugir de si mesma?
Certa noite foi
decisiva, ou escolhia me salvar, me reconhecer, me gostar e me idealizar, e abandonar aquela tortura, aquele idealismo de perfeição, de ser o que as
pessoas esperavam que eu fosse eu, decidi me amar como sou.
Eu optei por mim, chega
de tortura, chega de ser marionete, chega de ter companhias vazias, eu grite,
eu chorei, eu liberei toda a agonia e angustia que me afligia, fiquei sozinha,
mas com o coração tão leve quando uma pena no ar; e notei que sendo eu mesma,
eu aprendi a sorri com vontade, falar o que penso, ser o que sou que opiniões de
terceiros não iriam modificar em nada minha vida, só eu tinha o poder de ser
perfeita, uma “perfeita–imperfeita”, porque se eu for perfeita e ideal para
mim, acreditei em quem eu sou e me respeitei. As pessoas não terão alternativas
a não ser me aceitar, me respeitar e me admirar como sou.
–Nívea Allves
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