"Afinal os dois tinham corações gelados, medos, cicatrizes e espinhos..."



  Ela era uma garota cheia de “espinhos”, tinha medo do amor, ela nunca havia se apaixonado antes. As pessoas que passavam por sua vida eram “passageiras”, dificilmente alguém permanecia, ela não conseguia entender o que acontecia, mas sabia que sempre o final iria ser o mesmo... Todos iam embora.
  Já estava cansada de despedidas. Não suportava, mas a ideia de todos partirem sem explicação, apenas iam... Ela resolveu mudar, resolveu não sentir falta, se tornar alguém que não se importava mais. “Quer ir? Vá, mas não volte, não será, mas bem vindo!” esse virou o seu dilema, a partir daí ela se tornou alguém “amarga”, “sozinha” e “insensível” decidiu que era melhor assim sem despedidas, sem lágrimas, e sem pessoas passageiras, afinal ela não podia obrigar a ninguém ficar em sua vida, ela apenas deixou-os ir...
  O tempo foi passando e a cada dia que ela agia assim como se não se importasse, foi ficando solitária, seu coração estava virando uma pedra de gelo, os espinhos foram se multiplicando, até que chegou ao ponto de existir a invulnerabilidade. O desprezo por tudo, o ofuscamento de qualquer sentimento que ousasse entrar no seu coração frio e amargo...
  Como se isso já não bastasse, surgiu alguém em sua vida numa tentativa inútil de mudá-la, literalmente foi uma tentativa sem chance alguma.
  Três anos depois ela já estava detestando qualquer coisa que tentasse chegar perto de ser um sentimento. Ela lutava com toda sua força para não sentir e acabou não sentindo nada, se prendeu a um escudo que ela mesma criou de “invulnerabilidade” e passou assim por um tempo...
  Até o dia que ele apareceu na vida dela, em parte os dois se pareciam, ele também tinha um coração frio, distante e cheio de medos. Ali foi o primeiro momento em que ela sentiu algo “próximo” de ser um sentimento, por muito tempo ela não se importava com ninguém além de si mesma, ela era egoísta. Já ele apesar de ter um coração frio, se importava, preferia ser magoado a magoar alguém. Pela primeira vez em muito tempo ela se aproximou, o observou com cautela, queria saber quem era esse suposto “invasor” que tinha despertado seu coração de gelo, e como ele conseguiu andar por entre seus “espinhos” e não se machucar, mas sim admira-lo, mesmo sendo medroso ele admirou-a, ela literalmente estava assustada, afinal quem era ele? Por que dentre muitas ele escolheu a mais difícil de lidar, e a “garota cheia de espinhos, com o coração de gelo e invulnerável?”
  Até que ela percebeu que tinha algo diferente nele, ele foi o único capaz em anos de cuidar dos espinhos dela de esquentar seu coração que parecia um “ice berg”, de passar por seu escudo de “invulnerabilidade”. Ele era especial. E ela também era para ele, afinal a garota “espinhosa e fria” nunca pensou que fosse capaz de despertar sentimentos em ninguém, afinal quem seria louco o suficiente para não desistir dela? Para passar por entre seus inúmeros espinhos? Para encará-la? Quem? Ele. Ele não desistiu. Ele soube lidar com ela e com seus espinhos. Ele passou por seu escudo sem se ferir. Ele foi o responsável por trazer vida novamente ao coração dela. Parece loucura. É loucura. Mas só os dois sabiam tamanha intensidade quando juntos. Só os dois entendiam medos, espinhos, corações gelados, o desprezo por sentir e os danos que tudo isso pode causar, eram dois “loucos” que se entendiam, é como se um estava à espera do outro, como se a somatória de dois corações frios fosse o resultado de dois corações altamente pulsantes, cheios de vidas.
   A princípio era assustador para os dois, afinal os dois tinham corações gelados, medos, cicatrizes e espinhos. Mas como num toque do destino se encontraram os dois juntos até pareciam “normais”, um foi curando o coração do outro, um foi despertando o melhor do outro e a cada dia se apaixonavam mais, um pouco, um pelo outro, é uma loucura, um enigma, um quebra-cabeça, é tudo complexo só os dois se entendiam e sabiam melhor que ninguém que aquela loucura de sentimentos, medos e espinhos faziam parte, a melhor parte deles.

-Nívea Allves



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