NÃO FALE NADA! - Capítulo 2



OBS: HÁ HISTÓRIA CONTADA É REAL, SEM CITAÇÕES DE NOMES, RELATO DE UMA JOVEM QUE SOFREU BULLYING E QUE DEU A VOLTA POR CIMA, CONQUISTANDO ASSIM SEU AMOR PRÓPRIO E A FELICIDADE!

CAPÍTULO 2

Meus pensamentos me levavam a ele, meu coração sempre pertenceu a ele, mas meu orgulho me cegou, fui pela “cabeça dos outros”. Ele é feio, você merece alguém melhor! O que você viu nele? Está desesperada?!
Imaturamente eu tornei as críticas das pessoas verdade, tomei aquilo como lema: Sou boa demais para ele, ele é feio! Só que eu não parei para pensar que eu não gostei da beleza exterior dele, mas sim dele por completo. Em nenhum momento parei e lembrei que também tinha inúmeros defeitos, afinal eu tomei de verdade o que convém aos outros, mas não a mim, porque eu sim gostava dele, o achava lindo, eu era capaz de ver o que ninguém mais via seu jeito de falar, de se preocupar, suas palavras arrebatadoras apaixonadas, suas atitudes...
Eu o via como um príncipe–sapo no qual eu sempre sonhei, mas estava vivendo uma mentira, crendo que ele não era para mim, que ele era estúpido por falar tantas palavras doces. Que era ridículo ele sair do colégio e ir à minha casa, me ver depois de alguns anos, o jeito dele me contemplar–me era constrangedor, afinal porque ele estava me olhando desse jeito? Porque ele ainda não foi embora? Porque continua aqui, mesmo depois de eu dizer que não me importava com ele, que eu não o queria mais. Que olhar brilhoso era esse? Porque sorriu? Porque continua me mandando mensagem, mesmo quando eu o desprezo?

Querido diário,
Estou irritada, não sei se choro grito, ou quebro algo. Eu o detesto, mas ao mesmo tempo gosto tanto dele, mas como posso expor? Como posso dizer a todos que ele é minha escolha, se todos dizem ao contrário?
O que estou sentindo? Estou confusa, um buraco se abre em meu peito, as lágrimas descem como larva de vulcão, o meu grito em silêncio me sufoca, meu sentimento por ele cresce, mas eu sou covarde demais para admitir isso, espero que algum dia ele perceba. Talvez não seja à hora certa de ficarmos juntos.
Como posso desprezá-lo e ao mesmo tempo desejá-lo intensamente?
Eu sei que você é minha fonte de desabafo, meu refúgio entre essa tempestade que acontece dentro de mim, mas sei lá, eu só queria que alguém me dissesse o que fazer. Eu grito em silêncio e minha dor por sentir, e ter medo da reação dos outros escorrem pelos meus olhos sem que ninguém perceba.
Ele viu em mim coisas que eu jamais fui capaz de ver. Beleza, doçura, amor...
Não é ele que não me merece, mas sim eu. Eu não o mereço, ele é bom demais para mim...

Minhas lágrimas tomam conta do meu rosto enquanto escrevo meu desabafo e grito por socorro em silêncio, não foi o suficiente, me sinto tão inútil, egoísta, malvada.
Mas se minha teoria estiver certa? Se todo esse esforço e persistência no fim, só for uma ilusão? Se no fim ele só queira dizer “provei que te conquistei meu troféu.”
Para, para! Eu não vou deixar, eu não sei o que pensar, ele seria tão baixo assim? Respira, respira... Céus eu vou enlouquecer. Ponho o travesseiro no rosto e mordo a fronha.
Gorda, feia, inútil, porque alguém iria te querer? Penso. Sento–me na cama e olho para os lados a casa está vazia, me dirijo ao banheiro e pego minha escova de dente, a encaro, logo ergo o olhar para o espelho, coloco o cabo da escova na boca me olhando, mas desisto, recuou. Não quero ser mais um problema para meus pais. Respiro fundo e as lágrimas lavam meu rosto. Ouço a voz da minha irmã entrando em casa. Fecho rapidamente a porta, tiro a roupa, abro o boxe e ligo o chuveiro. Na tentativa inútil que a água que cai, leve todos meus pensamentos loucos, insanos e dolorosos. Levanto a cabeça e sinto a água cair em meu rosto, meu coração aperta, a água gelada me fez lembrar quão imbecil eu sou. Eu só erro, eu só sou substituível. Minhas lágrimas se misturam com água do chuveiro, desabo ali mesmo sem que ninguém veja, não preciso da pena de ninguém, eu posso suportar, eu posso...
Com o coração mais tranqüilo eu puxo a toalha e me enrolo, respiro fundo e abro o boxe em seguida à porta do banheiro, em passos rápidos eu me dirijo ao quarto. Minha irmã me olha, mas não diz nada. Fecho a porta e respiro fundo, minha respiração está pesada.
Sabe quando você se sente um estranho dentro da sua própria casa? É, é assim que eu me sinto, como se ninguém me conhecesse, como se eu estivesse sozinha, mesmo tendo várias pessoas ao meu redor, me sinto oca demais, impreenchível demais, idiota demais por acreditar no que todos dizem, me sinto estúpida, por mais que eu queira erguer a cabeça e falar o que penso, eu não consigo, me recolho e simplesmente me calo. Como uma criança que acabou de receber uma bronca, mas ao contrário da broca, eu recebo esculacho, palavras de baixo calão, às vezes me sinto um lixo ambulante e simplesmente me pergunto qual o motivo de eu ter nascido afinal? Para que eu sirvo? Para ouvir ofensas? Para ser humilhada pela minha própria irmã, prima e até mesmo colegas?!
O desejo de sumir só aumenta, assim como o oco dentro de mim, assim como a angustia que é presente, assim como tomo de verdade o que cada um diz. Quer dizer, porque eu estou aqui no meio de estranhos? Meus pais nem se quer percebem o que acontece. Minha irmã agora arrumou um namorado e quando junta os dois, só são ofensas, eles acham o que, que eu sou empregada? Fala sério! Ninguém percebe quão distante de todos eu estou?
Não culpo meus pais por não perceberem o que acontece debaixo do nariz deles, como poderia? Eles vivem mais trabalhando do que em casa, mal sabem eles que a filha com cara de anjo, na verdade é cruel, malvada, egoísta e baixa.
Por muito tempo me senti sozinha, com quem poderia contar? Meu diário está cheio de escrita, Deus ouve meu clamor sempre, eu queria abraçá-lo, mas não posso, ele é um ser superior a mim, uma mera mortal cheia de problemas, aparentemente “bestas”, mas que na verdade está tatuado em cada centímetro da minha alma.
Sabe quando se quer muito acertar, ou pelo menos ouvir: estou orgulhoso e simplesmente escuta: muito bem, e só? Pois é. Há coisas que machuca, são tantas expectativas, tantas frustrações que com o passar do tempo, ficam cravadas no peito.
 Acho que por esses e outros motivos que eu simplesmente não sei dizer “eu te amo!”, posso parecer egoísta, eu amo as pessoas, eu amo meus pais, eu perdoei minha irmã. Mas eu não consigo dizer que amo, eu não sei falar esta palavra, ela fica enganchada na minha garganta, eu sou do tipo que não fala, mas que demonstra.

-Nívea Alves




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